É difícil compreender o RJIES no que diz respeito às questões da “investigação e inovação”, cujo reforço é a estratégia da Universidade de Lisboa e, que por essa razão, estamos aqui reunidos neste debate temático.
Há aspectos do RJIES que parecem apontar no sentido de uma maior integração das unidades de investigação e dos investigadores, reforçando a sua presença nos órgãos de governo e nos centros de decisão da Universidade.
Porém, há ainda uma inexistência de distinção formal entre research university e teaching university.
Por um lado, ao não existir essa diferenciação, também não impediu essa diferenciação qualitativa (e por que não funcional?) de entregar a investigação a unidades autónomas e o ensino às faculdades e departamentos.
A estratégia da Universidade passa claramente pelo reforço da investigação, constituindo pólos de excelência e inovação, separando a investigação do ensino.
Deve passar também pela criação de mais áreas de fronteira para além das aparentes afinidades científicas, isto é, ir além das áreas estratégicas.
Neste contexto, é importante afirmar a ideia do Instituto de Estudos Avançados multidisciplinar: tantas vezes ouvimos nas últimas sessões “estudos do ambiente”, “estudos geográficos”, “a bioética, as economias de saúde, a medicina forense”, que ligam o Direito e a Saúde, etc.
Mas por outro lado, a importância de usar, por vezes, a palavra prudência.
Estamos a pensar a Universidade a 20 anos e é preciso ter em conta que se trata de um processo lento, que precisará primeiro de consolidação dos estudos pós-graduados.
E não menos importante:
Não só é importante relacionar a investigação com a pós-graduação, como salvaguardar a actualização do ensino com a investigação (tão importante em determinadas áreas, como por exemplo a saúde e o direito) e impedir o que aconteceu em muitas Universidades que optaram por este caminho: a docência a cargo dos que não conseguiram ser os melhores investigadores.
A Comissão Europeia numa recente Comunicação sugere as mudanças que poderão ser a chave do sucesso para as Universidades:
- mais mobilidade;
- mais autonomia;
- mais abertura à sociedade;
- mais financiamento;
- mais internacionalização;
- maior massa crítica;
- gestão mais moderna, mais flexível e com respeito pela diversidade.
Em primeiro lugar, é urgente obrigar “o país” (diga-se o governo) a encontrar o justo equilíbrio entre financiamento de base, financiamento competitivo e financiamento baseado nos resultados para o Ensino Superior e a investigação científica, com avaliações dos desempenhos, com objectivos claramente definidos, e em indicadores sustentados por uma avaliação, que temos de exigir que seja internacional.
Mas há outras metas que a própria Universidade tem de, e pode, cumprir:
* É urgente eliminar as barreiras que envolvem as instituições do Ensino Superior na Europa. A mobilidade geográfica e intersectorial precisa de crescer substancialmente.
Segundo as metas da Comissão europeia, o número de diplomados que passam pelo menos um período ou semestre no estrangeiro ou em experiência na indústria deveria, no mínimo, crescer para o dobro.
* É urgente também o reconhecimento da relação com a comunidade empresarial e com a sociedade em geral, como uma importância estratégica.
Parcerias estruturadas com a comunidade empresarial proporcionam às instituições do Ensino Superior oportunidades:
- Para melhorarem a partilha de resultados de investigação, de patentes e licenças.
- Para melhorarem a colocação de estudantes e investigadores em empresas.
- Para melhorarem as perspectivas de carreira.
* Garantir apoio aos alunos através das melhores condições de estudo e de investigação.
* Por fim, gestão participada e autonomia, mas também responsabilização e prestação de contas das instituições.
Para terminar, um tema, a propósito também da gestão participada, que sei que gera sempre resistências, mas que acredito que merecia amplo debate na Universidade de Lisboa.
Bolonha criou um novo paradigma de Estudante de Ensino superior:
- Com a consolidação dos estudos pós-graduados (redes de recrutamento de estudantes de 2º e 3º ciclo) e aprendizagem ao longo da vida;
- Abertura a novos públicos, nomeadamente maiores de 23;
- Estudante de Ensino Superior já não é o mesmo de há uns anos atrás
Qual o seu lugar na (que não existe) representação institucional de bolseiros de investigação, de estudantes de 2º e 3º ciclo e mestrados integrados em órgãos de matéria cientifica?
Não tem o “novo” estudante preparação científica suficiente no momento em que queremos consolidar os estudos pós-graduados, a investigação e dar “ar fresco” à Universidade de Lisboa?
Toda a armadilha de uma posição é poder tornar-se um preconceito. Gostava que aqui todos remássemos para o mesmo lado.
Neste pequeno contributo, para que, espero, a decisão política que venha a ser tomada o seja com mais qualidade, faltam muitos temas.
No entanto, e assim termino, há um que não posso deixar de frisar: a liberdade.
Confie-se, com humildade, na liberdade, pois a liberdade é que nos conduzirá à evolução para melhor e às mudanças efectivas.
Obrigado.
Fernando Arrobas da Silva
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Subscrever:
Comentários (Atom)
